DO-EU

Gratidão


Houve um objeto que atravessou o tempo das dores e das alegrias comigo, uma bolsa que pendurada no ombro, foi fiel testemunha dos meus dias.

Nela eu guardava o que me mantinha viva: as sondas, os fios, as pequenas extensões do corpo que me acompanhavam em silêncio.

Essa bolsa, com a palavra Gratidão estampada na frente, tornou-se mais que acessório, era um disfarce.


As fotografias em preto e branco, capturam fragmentos desse percurso no hospital, na rua, no riso entre amigos, no cansaço dos dias. São recortes do cotidiano onde a dor e a leveza coexistiram costuradas pelo mesmo fio invisível que me sustentava.


Carregar Gratidão era ao mesmo tempo um gesto e um lembrete.

Nos dias em que tudo parecia pesado demais, a palavra estampada sobre o tecido me lembrava de continuar.

Mesmo sem força, havia ali uma espécie de fé silenciosa, um reconhecimento de que ainda existia vida mesmo dentro da limitação.


Essas imagens falam de um tempo em que agradecer era também suportar, em que o gesto de carregar tornava-se ritual.


Gratidão é sobre o que se leva e o que se deixa, sobre o modo como o corpo aprende a conviver com o que o atravessa.

Deixei a bolsa como quem devolve algo sagrado ao seu lugar.

Ela carregou minha dor, minha fé e minha resistência e, quando já não precisei mais dela, entendi que Gratidão era o nome do caminho que me trouxe até aqui.